quarta-feira, 29 de junho de 2011

Análise de O Mundo como Vontade e Representação de Schopenhauer, por Gilmar Kruchinski Junior


"No nada, o homem encontrará, enfim; a verdade que nunca saberá!"


O mundo como vontade e representação é uma obra ímpar.
Típico dos gênios inquietos, a riqueza hermenêutica de sua literatura, originalmente metafórica e filosófica, exalta o quê do gênero transfigurado em arte. A arte aqui mencionada explode na semântica lingüística, onde a memória visual e a inter-relação cognitiva dialógica entre o sujeito e a obra do autor, transformam o passado que se faz presença no presente da arte.
O paradoxal pessimismo de sua obra reflete seu caráter de realista lógico em coerência com sua filosofia; a negação e mortificação do sujeito para este não ser, o não-viver em um mundo onde a lógica da vontade é maligna; o ponto de fuga, a abstração que revela o sublime, a porta de saída do mundo maligno: A arte, fuga para o nada.
Seu fundamento e pressuposto ético-imanêntico, perpetrado pelo fundo panteísta que encontra sua versão no idealismo alemão com o seu contemporâneo Hegel, fundador do sistema aberto onde o absoluto é a parte e o fundamento. Avesso a visão do bem hegeliano neo-platonizado, Schopenhauer concebe o absoluto enquanto vontade, raiz metafísica, energia vital que move a engrenagem de tudo o que é.
A partir desse ponto, deduz-se que à vontade como fundamento ético também se legitima, incrivelmente esse pressuposto ético fará sentido na fundamentação de sua moral pietista de negação do mal e partilhamento do bem, um avesso da vontade cega e irracional e fundamento pressuposto do cristianismo, o bem para o outro.
A arte, tentativa bem sucedida da excelente obra de Schopenhauer, se manifesta pela mecânica do ponto de fuga pelo sublime, e a riqueza das palavras no estilo nominalista, místico-nihilista de um pensar a intuição da possibilidade fundamental de um desconhecido reconhecido em tão parca mediação fundamental, a linguagem propriamente dita, dita o desespero e a incerteza da nadificação da consciência; que se finda, vive-se eternamente na arte literária, a arte de escrever, a extensão eterna do pensar, a possibilidade não só do diálogo, mas da arte enquanto arte do belo, a arte do bem escrever, a grafia e o estilo que expressa mais que o dito; expressa a intuição: um dia imediata, mas no eterno devir, mediada pela arte gráfica; onde o sujeito é o artista do outro enquanto linguagem e enquanto intersubjetividade que se expressa no além do agora, onde o veículo é o livro, e a obra, arte.


Numa tal contemplação, de um só golpe a coisa individual se torna a idéia de sua espécie, e o indivíduo que intui, é o sujeito puro do conhecimento.       (Tomo 34).

O mundo como vontade e representação têm uma tarefa nobre: Salvar o homem pela arte. Essa arte inclui o doar-se para o outro, reconhecer a si mesmo enquanto outro em suas dificuldades e mazelas, aplicando o preceito cristão de amar uns aos outros como ato de protesto contra o mecanismo da vontade maligna.
A vontade é mortificada em função da salvação do ser de si, para o outro. Seu fundamento literário que tenta convencer-nos do que não vemos, provocando a fé, a crença que tenta em algo além do racional, produzindo um efeito psicológico-Estético, onde elementos não conscientes de nossa consciência estariam trabalhando em conjunto com esta última, e nesse ponto a obra O Mundo como Vontade e Representação pode tranqüilamente se sobrepor a doutrina da repressão de Sigmund Freud, esta sensação estranha que parte de sua própria alma, transfigurada e translúcida no motivo de sua obra indicam ao leitor a fé em um desconhecido terrível e nem sequer abordado objetivamente, onde a possibilidade de uma transcendência pela mortificação da consciência do ser, nos leva ao incognoscível, onde tudo o que sabemos é nada, como possibilidade de não-ser.
Schopenhauer arranha artisticamente e de forma terrivelmente doce, a possibilidade de um desconhecido saber de um nada que nem abarcamos, mas conhecendo-o ou não, nele adentraremos, queiramos ou não. O nada é matéria-prima, possibilidade pura de deixar de ser ao mero toque de algo, e onde o mundo que pode ser, alimentado pela força maligna da vontade, o universo mesmo, além dele e de tudo o que é, resta-o apenas como coisa nenhuma, o primordial nada além de tudo o que é, exposto em O Mundo Como Vontade e Representação, Livro III, a obra do admirável mestre.

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