quarta-feira, 29 de junho de 2011

A MATERIALIZAÇÃO DAS EMOÇÕES.

INDIRETA porque diferente da comunicação pessoal comum, onde podemos nos expressar emocionalmente, a Arte em geral não visa apenas um interlocutor com o qual estamos em contado direto, ela busca atingir um público alvo bem mais abrangente e em geral de forma unilateral.
NÃO IMEDIATA porque o produto artístico produzido normalmente será contemplado indefinidamente. O artista realiza seu trabalho num momento, e o público o contempla em outro.
E quanto ao EMOCIONAL, creio ser evidente que a Arte é uma atividade predominantemente passional.
A EMOÇÃO é o conteúdo a ser transmitido, o meio é a matéria, quer seja a tinta, o barro, ou o som, que se propaga através da matéria, ou o próprio corpo humano. Sendo assim a ARTE é uma forma de se materializar emoções.
O que mais me atrái nesta definição é que ela elimina a possibilidade de se excluir qualquer forma artística baseada em preconceitos ou gosto pessoal. Se o artista se expressa, está fazendo arte.
Dos 4 grandes pilares da cultura humana ARTE, MÍSTICA, FILOSOFIA e CIÊNCIA, a Arte é muito provavelmente a que há mais tempo é regularmente praticada pela humanidade. Aliás, podemos encontrar arte mesmo entre os animais, ou pelos menos é o que nos parece as interessantes pinturas feitas por gorilas e outros primatas.
Temos nas pinturas rupestres a mais antiga expressão cultural humana, e é possível que o nascimento da humanidade tenha sido o nascimento da capacidade de se expressar artísticamente ainda que de forma primitiva.
A Arte toca a todos nós, pois somos seres emocionais, eu pelo menos jamais encontrei algum Ser Humano que não demonstre apreciar alguma forma de música, um desenho ou mesmo um filme. Como um elemento indispensável da cultura humana, as diversas formas artísticas evoluíram com a história, desmembrando-se em categorias bem definidas.
É comum ouvirmos sobre as 7 artes, que seriam a Música, a Pintura/Desenho, a Escultura, a Dança, a Literatura, o Teatro e o Cinema. Essa classificação é bastante simples e razoável, podendo até mesmo ser hierarquizada.
É muito difícil saber qual seria a mais antiga forma de arte, podemos isolar algumas. Não poderiam ser obviamente o Teatro, pois este é uma expressão cultural que só viria a surgir numa civilização mais avançada, ou a Literatura. A Dança embora muito antiga, em geral depende necessariamente da Música, e estas últimas junto as Artes Plásticas, Bidimensional e Tridimensional, formam sem dúvida os modos mais antigos do Ser Humano materializar suas emoções.
Mesmo assim, eu arrisco concordar com aqueles que dizem ser a Música a Primeira das Artes, pois é a única que encontramos disponível no mundo animal ainda que seus executores não a produzam com um objetivo apenas emotivo, e sim muito prático. Essa expressão então acompanhou a transição que deu origem ao Homo Sapiens, e a princípo tem sobre as artes visuais e táteis, Desenho/Pintura e Escultura, a vantagem de não necessitar de nenhum outro instrumento que não o próprio corpo, em especial o aparelho fonaudiológico, para ser executada. E como da Música para a Dança quase não haja por vezes separação, estas seriam as expressões mais antigas.
Porém como já vimos, desde tempos muito remotos encontramos a Arte Plástica Bidimensional, como nas pinturas rupestres, e posteriormente a Tridimensional, as esculturas.
Sendo assim arrisco a seguinte ordem de surgimento, e assim denominação ordinal das Artes:
Primeira
MÚSICA
Segunda
DANÇA
Terceira
PLÁSTICA BIDIMENSIONAL
(Desenho/Pintura)
Quarta
PLÁSTICA TRIDIMENSIONAL
(Escultura)
Creio ser notório que enquanto podemos ter alguma idéia do surgimento das Artes Plásticas, graças a achados arqueológicos, o mesmo praticamente não se dá com as duas primeiras artes, ainda que muitas das pinturas rupestres retratam o que parecem ser pessoas dançando. Visto que encontramos proto formas de dança nas manifestações dos primatas, sempre acompanhadas de gritos, não é muito ousado inferir que Música e Dança, ainda que em formas muito primárias, sejam as artes mais antigas.
Daí para frente todas as artes que surgiram dependem em algum grau das anteriores, e as duas próximas são difíceis de ser ordenadas.
A literatura obviamente depende do surgimento da escrita, sendo então em comparação com estas anteriores, muito mais tardia, por volta de 4000 aC como todos sabemos, ao passo que as anteriores, mesmo as plásticas, remontam a períodos mais antigos.
Muitos dizem que o Teatro então seria uma forma posterior, por depender da Literatura. Tenho minhas dúvidas, pois o simples contar de histórias, mesmo na tradição oral, por vezes assume formas bastante teatrais. É claro porém que a escrita acrescenta uma nova forma de se produzir a representação cênica.
Dessa forma, considero:
Quinta
TEATRO ou Literatura
Sexta
LITERATURA ou Teatro
Sétima
CINEMA
Que o Cinema seja a sétima é óbvio, ele surgiu em meados de 1900 dC. Já o Teatro, ainda que na forma moderna dependa necessariamente de um texto, possui, como eu já disse, raízes mais primitivas, embora eu aceite também o ponto de vista que propõe a inversão de sua posição com a Literatura.
Esta última adentra já numa dimensão nova. A princípio um Texto é uma forma gráfica de se representar sons, e como todas as escritas primitivas são em geral Ideográficas, representativas, na forma de desenhos mais ou menos abstratos como os Hieroglifos Egípcios ou os Kanji Chineses, é evidente que elas dependem da Arte Plástica Bidimensional.
Porém elas traduzem a princípio Sons, servindo primeiramente de modo prático. Aliás é óbvio que todas as artes foram inicialmente atividades práticas para posteriormente se desenvolverem passionalmente. Mas ao criar-se as primeiras escritas, seus caracteres como o próprio nome "Ideograma" sugere, remetem a idéias, não necessariamente sons.
Portanto a escrita pode nos fornecer um meio inédito de tramissão de idéias de modo indireto, sem a necessidade de outras formas de comunicação como o Som, ainda que seja necessário um certo conhecimento da linguagem falada para sua plena apreciação. Mas também um meio direto de transmissão de conteúdos difíceis de serem expressos de outra forma. Como numa conexão mais íntima entre a mente do escritor e a do leitor, sem a interferência do meio físico sônico.
A escrita faz muito mais que desenvolver a comunicação, ela desperta uma nova dimensão mental no Ser Humano. Uma que é capaz de trabalhar num nível mais abstrato e mais ágil. Não é a toa que pessoas inteligentes em geral gostem de ler, pois lendo podemos ser muito mais críticos, possuímos mais tempo e oportunidade para refletir, detendo a leitura pelo tempo que quisermos e retomando-a em seguida. Muito diferente do que numa comunicação oral onde muitas vezes a situação nos impede de deter o orador para solicitar um tempo para reflexão.
Além disso ela estimula um outro grau cognitivo, o que relaciona idéias com símbolos de forma cada vez mais complexa dependendo do nível comunicativo
Por esse motivo considero que o analfabeto adulto, e lamento muito dizer isso, possui um nível mental humano a menos, não desenvolvido, adormecido. E digo de forma ainda mais dura, é sim, de algum modo, menos humanizado. Razão pela qual considero inaceitável por exemplo o "Voto do Analfabeto", ou qualquer reticência quanto a erradicar por completo o analfabetismo, ou num modo de dizer mais preciso, o Agrafismo, considerando as demais escritas não alfabéticas.
E isso se aplica também, em graus relativos, a todas as formas de semi analfabetismo, ressaltando porém que me refiro a uma forma de desenvolvimento humano não diretamente relacionada a qualquer idéia de superioridade "moral", "espiritual", mas sim Racional.
Tenho mais a dizer sobre isso em minha monografia O CAOS E OS ANJOS.
Voltando ao assunto deste Texto, o surgimento da escrita viria possibilitar formas muito inovadoras de expressão emocional. Não só a narração em forma escrita de uma história, prosáica, mas também a poética, que abre possibilidades muito ousadas de pensamento e emoção.
O Teatro, como já vimos depende também em alguma grau das formas artísticas mais primitivas, principalmente em seu modo moderno, que exige não só um texto, mas um cenário plástico, por vezes música, ou apresenta danças.
Mas em sua forma primitiva poderíamos até colocá-lo, quem sabe, antes das Artes Plásticas, pois basta a capacidade comunicativa mais complexa, a fala, surgir no primitivo Homo Sapiens, para que lhe seja possível ao contar um história, acrescentar alguma dramaticidade.
Porém essa forma primitiva de proto-Teatro talvez seja tão difusa, e perdida no passado ainda que possamos observá-la em sociedades primitivas contemporâneas, que fica difícil abordá-la por esse prisma, o que acaba nos levando quase que invariavelmente a considerar como Teatro apenas as formas mais modernas, cujas estruturas básicas surgiram na antiga Grécia. Esta forma sim, depende da Literatura e consequentemente da Escrita.
Esta não é a única complicação no que se refere a um relacionamento preciso entre a ordem de surgimento das Artes e suas definições. A própria Dança parece desafiar a definição de Arte que proponho, pois sua transmissão parece ser a princípio, muito direta, entre o dançarino e o espectador. E de fato o é se consideramos as formas mais primitivas de Dança.
Porém, voltando a apelar para as formas modernas, a Dança não é apenas o apelo direto de alguém ao se expressar corpóreamente. Pois é também uma arte passível de trasmissão e aperfeiçoamento.
Exemplificando, eu posso até encenar uma dança para um objetivo direto de transmissão emocional, violando a idéia de que a Arte seria uma maneira Indireta de se comunicar emoções, ou uma materialização emocional.
Por outro lado, eu posso criar uma dança específica e treinar outras pessoas para representá-la, e assim ela assume cada vez mais a caracterísitica artística indireta, podendo ser representada por terceiros para públicos distintos. Podendo mesmo ser registrada gráficamente, aumentando sua propriedade de materialização. O fato é, que a Dança, assim como o Teatro, podem ser representadas de forma indireta entre Autor e Expectador, transformando o Artista no próprio meio físico da transmissão, o que acrescenta uma outra dimensão de valor humano diferenciado, o da Interpretação, que pode ser notada também na Música.
Cada Dançarino, Ator teatral ou Músico, pode acrescentar sua própria personalidade à obra, tornando essas formas artísticas mais dinâmicas. Notamos então uma diferença entre as Artes Plásticas e Literatura, comparadas a Música, Dança e Teatro.
ESTÁTICA
DINÂMICA
PLÁSTICA BIDIMENSIONAL
MÚSICA
PLÁSTICA TRIDIMENSIONAL
DANÇA
LITERATURA
TEATRO
CINEMA
Como podemos notar, as Artes Plásticas são em Geral estáticas, assim como a Literatura a não ser que seja recitada, o que a aproxima do Teatro. Porém este, a Música e a Dança, sempre são dinâmicas por serem representadas por humanos, embora possam estar em sua forma escrita. Uma Partitura é apenas um meio de se facilitar o registro e a transmissão de uma música, ela sequer pode tornar rígida a interpretação. A verdadeira Música é um evento Sonoro, razão pela qual considero que o músico que só toque de ouvido é muito mais músico do que o que só toque por partituras.
A Dança é ainda mais dinâmica, pois sua representação gráfica, que já é rara, jamais poderia captar o mesmo grau de precisão das partituras musicais. A Dança é um fenômeno de dinamismo extremo, ainda maior que o Teatro, onde a simples existência de um texto atenua esse caráter dinâmico, embora sempre haja espaço para um toque pessoal do ator, ou em certos casos oportunidade para o Improviso.
O Cinema é claramente o que mais mistura o Dinâmico e o Estático. Ele possui ainda mais níveis de produção que o Teatro, que precisa de um Texto, um Desenho que idealize a cenografia, posteriormente a parte escultural, e etc.
O Cinema exige texto, storyboards, produção plástica, interpretação, gravação e pós produção. Após pronto o Filme é uma obra estática, porém sempre é possível a refilmagem, onde novas interpretações podem ser dadas pelos atores, diretores e etc.
É claro que qualquer Arte pode ser dinamizada ou estatizada, mas em geral ocorrem os casos sugeridos acima.
O Cinema é muito mais do que um Teatro filmado, algo que muitos críticos cinematográficos jamais entenderam. Um filme com maus atores e um mau roteiro porém recheado de ótimos efeitos especiais não é menos Cinema do que um filme que seja o contrário, ainda que o valor artístico tenha se concentrado numa outra categoria.
Razão que influencia o fato de que não vejo nenhuma justificativa objetiva para a separação entre Cinema de Arte e Cinema Comercial. Primeiro por que quase nenhum filme é exibido gratuitamente ou mesmo por um preço de custo, segundo por que mesmo que um filme seja produzido com objetivos meramente comerciais, e no mesmo não tenha sido depositado muito "esforço artístico", sempre haverá o espectador que o verá como uma experiência emotiva legítima, onde se estabelece uma conexão indireta entre o produtor e o espectador.
Portanto essa separação a meu ver, não passa de uma forma alegórica de dizer o que uma determinada elite "intelectual" aprecia ou deixa de apreciar, ou o que uma massa populacional aprecia, e consome, ou não.
O parâmetro mais apropriado para o Comercialismo cinematrográfico seria o que ocorre naqueles filmes, em geral de público alvo juvenil, que são acompanhados por uma enxurrada de produtos paralelos relacionados como camisetas, brinquedos, videogames e etc. Mas mesmo isso não anula o valor artístico da produção.

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